Ter muitos seguidores: um novo símbolo de status?

Há uns meses, recordo-me de um almoço que tive em companhia de amigos queridos, onde me foi apresentada uma pessoa que trabalha através da internet, com cursos, consultorias, com livros publicados, e tem lá seus muitos “k’s” de seguidores.

Eu, claro, fiz meu dever de casa antes do encontro, e visitei seu perfil, li alguns comentários de posts, e fiquei impressionada com o carisma dessa pessoa diante dos seguidores, pois os registros apontavam que ela era maravilhosa, compreensiva, humana, dentre alguns outros adjetivos.

Então me preparei para estar diante de uma pessoa diferenciada, pelo trabalho que fazia e pelos resultados divulgados. Estava de fato excitada para conhecê-la, queria conversar, trocar ideias, aprender algo diferente.

Pois bem, qual foi minha surpresa e decepção ao me deparar com alguém completamente diferente do que eu li na rede social. Essa pessoa passou o almoço inteiro falando dela, dos projetos novos, das mudanças, do quanto ela era boa, superior a muitas questões do cotidiano, da quantidade de seguidores, do quanto ela era espiritualizada… e mais uma série de questões.

Quando percebi nos primeiros minutos essa característica, tratei de ouvir, apenas. Aproveitei para descansar. Sim, porque quando se tem diante de si uma pessoa como essa, não há muito o que fazer. Por mais que você tente falar algo, ela não vai escutar, apenas aguardar você terminar para voltar a falar de si. Ou pior, te interromper no meio da fala, como ocorrido.

Fiquei triste, não sei dizer porquê, mas fiquei. Esperava mais. Talvez ela seja mesmo boa somente online; pois a aproximação que ela tem com os seguidores é sem dúvida, mais humana do que a interação presencial, onde prevalece a vaidade de mostrar, a todo custo, suas qualidades infinitas, ignorando completamente as necessidades de quem está à sua volta.

O pior é que ela não está sozinha. Após essa experiência, comecei a ter mais cuidado ao seguir algum perfil ou recomendar alguém. Há mais gente com essa distorção, do que imaginamos, infelizmente.

Junta-se a esse exemplo, muitos outros comportamentos que algumas pessoas cometem, por acreditarem que por conta do “status” que alcançaram na rede, não podem se “misturar” com “pobres mortais” de “perfis inferiores”. Vou abaixo listar alguns, que, a meu ver, são dignos de reflexão urgente:

  • Seguir pessoas para aumentar o número de seguidores e depois que isso acontecer, deixar de seguir. A ideia é a seguinte: quanto maior a distância, mais você prova que é importante na sociedade.
  • Não compartilhar uma frase ou post de algum perfil somente porque este é “menos importante” que o seu. Menos importante significa menos seguidores, claro. Eu já vi isso: uma conhecida minha adorou uma frase, mas “…o que iriam pensar dela se partilhasse algo de um perfil tão comum?”
  • Fazer comentários apontando os erros de português do post, somente para mostrar que a pessoa fez algo errado e com isso gerar descrédito na mensagem que a publicação quis transmitir.
  • Fazer lives e não ler um único comentário ou pergunta de quem está assistindo. Isso não é live, é palestra online ou é missa do Padre Fábio. Não há problema algum em não ler, mas deixe claro no início que as perguntas ou comentários serão respondidas depois, por escrito, não ao vivo.
  • Julgar que a pessoa seja um profissional ruim ou mediano pelo layout simples do perfil e/ou por ter poucos seguidores. Ou seja: o conteúdo e experiência desse profissional é desconsiderado por conta de uma estética de perfil?

Para finalizar, convido todos nós a refletirmos sobre essas três perguntas:

Até que ponto somos diferentes de nossa essência quando estamos online?

Até que ponto o número de seguidores influencia nosso comportamento?

Como nos sentimos quando nos comparamos a quem tem mais ou menos seguidores que nós?

A resposta para essas perguntas depende, claro, dos valores e da vivência de cada um de nós. Particularmente, penso ser essencial neste momento, observar com muita seriedade, a congruência entre o que comunicamos que somos nas redes, e o que de fato vivenciamos e praticamos, nas interações diárias.

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