Qual a fórmula para sua equipe ser mais produtiva?

Passei por várias fases, ao longo dos anos, ao contratar pessoas para trabalhar na minha empresa: uma pequena loja de confecções, artesanatos e biojoias. Apesar de em muitos momentos termos filiais, a empresa ainda era de pequeno porte, porém, isso não impediu que eu fizesse mais de uma centena de contratações nos 15 anos que estive à frente desse negócio. Considero que passei por 3 fases distintas:

FASE 1 – QUERER SER A MELHOR CHEFE DE TODOS OS TEMPOS

O QUE EU FIZ:

Processo seletivo exemplar, com duas, três entrevistas, testes de conhecimento, e tudo o mais para escolher a melhor candidata. Quanto ao time de funcionárias, treinava incansavelmente todas, aplicava uma série de técnicas de feedbacks, treinamentos de vendas de último padrão, leitura de livros mensais para cada uma, cafés da manhã para que pudessem dar sugestões à empresa, avaliações individuais, avaliações 360°, contratação de consultoria de inovação para todas, testes de competência individuais para avaliar qual o melhor desempenho em cada setor da loja…

QUAL O RESULTADO QUE EU TIVE:

Elas ficaram exaustas, muitas não gostavam de ler, e quando o faziam, era por obrigação mesmo. Ao final, algumas não conseguiam interpretar a leitura, achavam que estavam perdendo tempo. Tive poucos feedbacks de que essa ação era benéfica. Quanto aos treinamentos, por mais que o desempenho de todas aumentasse, muitas relutavam em investir o tempo livre nisso, gostavam até dos conteúdos e técnicas, mas às vezes a cabeça estava longe… As vendas aumentaram, sem dúvida, a loja estava organizada e tínhamos regras escritas, e descrição de tarefas individuais. Porém na contagem de estoque tínhamos faltas, e a empresa pagava grande parte por isso.

FASE 2 – FOCO TOTAL NA PRODUTIVIDADE

O QUE EU FIZ:

Cancelei mais da metade dos treinamentos, eliminei o projeto de Leitura, dei foco total nos processos. Não aceitava mais justificativas por erros básicos, utilizava muito mais os instrumentos de punição (advertência, suspensão), e cobrava friamente os resultados das metas de vendas e administrativas da empresa. Demiti muito mais nesse período. Lembro que uma vez uma funcionária guardou o boleto do aluguel e só entregou para pagamento 3 dias depois do vencimento. Ela pagou a multa (de 10%) desse boleto.

Meu foco total era em produtividade: tinha regras para uso do celular, para uso do uniforme, começamos a fazer contagem diária do estoque em todos os turnos de funcionamento, e se faltasse um produto, o valor era dividido (metade a empresa pagava, metade a funcionária do turno pagava) a ideia era extrair o máximo da equipe no tempo em que estavam em serviço, se não tinha cliente para atender, tinha estoque para contar.

QUAL O RESULTADO QUE EU TIVE:

Apesar de ter aumentado a disciplina, visivelmente a equipe estava triste e desconfiada, por conta da demissão iminente e também pela contagem diária do estoque, que aliás, estava perfeito: nenhum produto faltava, e se havia alguma perda era por quebra ou defeito, mas não havia mais diferença de quantidade entre o sistema e a prateleira.

Estoque pela primeira vez funcionando e eu orgulhosa com esse novo formato: super vaidosa, contando vantagem às outras amigas lojistas, sobre o nível de controle que havia adquirido…, quando começo a receber reclamações de mal atendimento, e claro, percebo que atrelado a isso, as vendas começam a despencar. Porquê? As vendedoras estavam muito mais preocupadas em contar o estoque. O cliente passou a ser um problema, então elas atendiam rápido, para dar tempo de contar o estoque, por medo de faltar algo e terem que pagar.

FASE 3 – TRABALHAR COM HUMANIDADE

O QUE EU FIZ:

Aboli totalmente a contagem de estoque diária (passou a ser por períodos bimestrais). Precisava recuperar as vendas! Fiz reuniões em grupo, ouvi cada um com atenção. Pedi soluções, ideias para melhorarmos tanto o desempenho quanto o controle das mercadorias. Eles trouxeram sugestões brilhantes, estavam orgulhosos em participar mais, em ver suas ideias serem ouvidas e discutidas. Implantamos as inovações. Controlamos juntos os processos, avaliamos juntos os resultados. Dei liberdade para buscarem mais fornecedores, apresentarem alternativas de novos produtos. Fui mais flexível com momentos específicos, se um funcionário tinha menor desempenho nas vendas, a primeira ação era conversar, entender a fase que estava passando, dar um tempo para ele se recuperar.

QUAL O RESULTADO QUE EU TIVE:

As vendas aumentaram. E melhor: os funcionários estavam confiantes, orgulhosos novamente. Tiravam fotos de produtos que viam em feiras, me enviavam, eu decidi destinar um valor para que comprassem essas mercadorias para fazermos o teste de vendas, havia um sentido de pertencimento, eles lutavam para manter o negócio não apenas funcionando, mas com os melhores resultados.

Ampliamos a empresa, porque uma funcionária viu uma oportunidade enquanto eu estava viajando, e mandou a foto para mim. Não entendi e ela descreveu na foto: porque não colocarmos também um quiosque como esse? Essa sintonia foi fundamental pois se eu perco mais dois ou três dias, não conseguiria o espaço para instalar esse novo quiosque, que funciona até hoje. A empresa estava coesa, forte, com todos no mesmo foco de prosperidade e harmonia.

CONCLUSÃO

Não há fórmula para obter melhor produtividade da equipe, mas uma coisa percebo que é fundamental: quanto mais nos aproximamos da realidade de cada pessoa que trabalha conosco, quanto mais entendemos suas dores e anseios, e damos condições para que ela apresente o seu melhor, mais resultados positivos teremos. Trabalhar com senso de humanidade significa que as pessoas são a chave do processo, e que sem dúvida vamos errar sim ao longo da caminhada, mas a nossa equipe estará lá para nos apoiar e nos ajudar a levantar, quando isso acontecer.

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