Quantas vezes eu fui lá no último ano?

Uma livraria encerra seu funcionamento após 36 anos operando. Deixa saudades, muitas pessoas da cidade comentando, lamentando o fechamento, uns reclamando do governo, dos impostos, do povo que não tem mais hábito de ler, da falta de tempo, da chuva, do sol… há um sem número de hipóteses.

Quantas vezes eu fui lá no último ano?

Quantas vezes, no meio de uma conversa empolgada, digo a uma amiga ou amigo que estou ali para o que precisar, que pode contar comigo… mas quando ele ou ela pedem ajuda eu não cumpro o que disse? Invento uma desculpa, me esquivo, me retraio, finjo que não é comigo…

Quantas vezes eu priorizei o novo apenas para dizer que era atual, por “estar na moda”. Então eu decidi investir meu dinheiro e tempo em algo que nem era tão bacana assim, mas gerava uns bons likes… 

Quantas vezes eu disse e postei frases da moda como: “mulher ajuda mulher”, “estamos juntas…” mas na real eu de fato sabia que isso me renderia uma boa reputação com as frases, porém na prática eu prefiro comprar da empresa grande, cujo dono nem conheço, por uns míseros reais a menos de desconto?

As empresas são vivas, as empresas são feitas de pessoas. Os negócios são construídos e mantidos em cima de muitos desafios, sofrimentos, decepções e alegrias também. Mas não há a menor dúvida: todo negócio precisa ter LUCRO.

Eu me questionei muito com esse fechamento da livraria. E refleti sobre todas as promessas que fiz de visitar uma amiga e não fui, de ir comprar na sua loja e não fiz o esforço de ir e comprei pela internet… mesmo sabendo que ela mandaria uma sacola com todos os itens para eu provar em casa… nem pedi para receber os itens… sei lá, fingi que estava sem tempo, fingi ter muita importância e afinal, a compra de um sapato não ia fazer essa diferença toda no negócio dela… Será?

Mas se cada amiga que prometeu fizer a mesma coisa que eu fiz… como ficará a sapataria da minha amiga? A livraria fecha porque não tem clientes que paguem o valor mínimo para mantê-la aberta. 

Diante da reflexão acima, me questiono: Onde está o compromisso com minha palavra? Com os meus valores? Ou será que preciso revê-los?  Ninguém vive do passado, e muitas pessoas vivem da ilusão do que pensam ser. Qual a ilusão que criei em torno de mim? Ou, sendo mais atual, qual avatar eu apresento para as pessoas?

Empresas abrem e fecham, possuem ciclos de vida, isso é natural, e, por mais que deixem boas lembranças, algumas precisam encerrar suas atividades.

Empresas, cargos, títulos, tudo isso é passageiro, tudo muda. E o que fica? Penso que o saldo lá no fim do balanço é maior que o patrimonial, talvez por isso a comoção com o fechamento da livraria. Pois o que realmente importa são as relações que vamos construindo ao longo da nossa jornada.

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