Quando precisei “me demitir” da minha empresa

É comum ouvirmos falar sobre a importância de dar um passo atrás para analisar a situação e buscar soluções para os problemas. No entanto, poucas pessoas realmente colocam isso em prática, seja na vida profissional ou pessoal, por vários motivos, mas o mais legítimo é que não é fácil se desfazer da nossa zona de conforto, conquistada, muitas vezes, a duras penas.

Apesar de ser difícil tomar essa decisão, recuar é extremamente benéfico, serve para reavaliarmos todo o entorno, respirarmos, e só então recomeçar, porém com outro olhar, outro comportamento.

Lembro quando decidi vender minha loja, em 2019. Era um empreendimento lucrativo, funcionava muito bem, tinha uma equipe experiente, que conhecia e operava os processos com maestria. Mas havia uns dois anos que eu percebi não estar mais feliz à frente daquele negócio.

E antes que eu caísse numa zona de conforto, antes de fazer o negócio quebrar, achei que o mais saudável seria vender. Mas vender sem ter nada em vista para trabalhar???

Isso mesmo. Não tinha nada em mente, a não ser a ideia de que precisava fazer isso. Era imperativa a minha saída para o negócio continuar prosperando. Parece contraditório, mas eu senti que eu precisava “me demitir” da minha empresa. Eu não era mais necessária nela, e pior que isso: minha insatisfação levaria esse negócio para o mal caminho.

Então, em outubro de 2019, vendi para uma mulher cujo sonho era trabalhar com moda, com coleções autorais e originais, tudo que a minha marca oferecia. Enfim, era eu há 15 anos atrás.

E sabe o que aconteceu?

Após 5 meses que ela começou a operar, veio a pandemia… O primeiro impacto foi de desespero, como todos os empreendedores. Mas ela não se acomodou, não culpou a falta de experiência no negócio, e defendeu enfrentar a pandemia. Essa empreendedora mudou o foco: a loja estava fechada mas ela começou a vender de casa pelo whatsapp; investiu mais no online, criou novas estratégias, manteve os funcionários durante todo o lockdown, reabriu quando foi permitido, trocou alguns fornecedores, criou um site, contratou alguém forte em redes sociais, e eis que a empresa continua competitiva, diria melhor até que antes!

Provavelmente eu não teria feito tanto. Porque antes dessa crise sanitária eu já estava desmotivada com esse empreendimento. E reforço que era lucrativo!

Quando eu vendi a empresa, da noite para o dia não tinha mais nada para gerenciar: funcionários, estoques, ponto comercial, fornecedores…, ao mesmo tempo minha mente ficou livre, pronta para novas experimentações.

Ao mesmo tempo, senti tanto medo….

Lembro da primeira noite após a venda, eu não consegui dormir. Fiquei um tanto paralisada.. “E agora? O que vão pensar de mim? Quem eu sou sem esse negócio? Será que vou conseguir iniciar outro empreendimento? E se eu não tiver sucesso? E se eu perder todo o dinheiro que consegui nessa venda e não fazer nada bom?… E se…?”

Eram tantas perguntas angustiantes… mas aí o dia amanheceu, e decidi que independente do resultado a partir de então, eu iria trabalhar para fazer algo que me motivasse, que desse certo, independente do tempo que durasse.

Dentro de mim, queria algo inovador, diferente, e sobretudo, que me desse mais liberdade para viajar e viver onde quisesse. E isso só foi possível acontecer, quando me senti livre para olhar para outras possibilidades, que depois se tornaram oportunidades.

Eu dei vários passos para trás, hoje estou recomeçando com um novo empreendimento. O medo me acompanha, claro, as perguntas persistem na minha cabeça à noite: “Vai dar certo? E se ninguém comprar esse serviço? E se eu perder o dinheiro que investi? Como vou contratar os funcionários? Terei capital de giro?…”

Não sei as respostas, mas posso dizer uma coisa com toda a certeza: estou realmente disposta a fazer dar certo. Afinal, se eu não correr atrás do que eu quero, quem fará isso por mim?

Compreendi que as dúvidas, medos e ansiedade nos acompanharão para sempre. O segredo é conviver com tudo isso, sem nos deixar paralisar na grande jornada em busca de nossos sonhos.

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