Cultura dopamina – o prazer da sociedade moderna

No início deste ano recebi a apresentação do estudo elaborado pela Futuro S/A denominado Megatendências 2025. Um documento repleto de insights sobre as tendências que vão nortear o mundo dos negócios e do trabalho. Creio que algumas pessoas conheçam o documento
São 5 megatendências e a primeira delas é a Cultura Dopamina, a qual peço emprestado o tema, não para discorrer sobre o conteúdo, mas para comentar sobre o quanto a tecnologia tem nos afastado das conexões pessoais.
A ideia não é desfazer da importância da tecnologia em nossas vidas, mas de chamar a atenção para o quanto é importante e necessário mantermos as conexões pessoais.
A Cultura Dopamina é muito bem abordada no livro “Nação Dopamina”, da Dra. Anna Lembke, Psiquiatra e Professora da Escola de Medicina da Universidade Stanford. No livro, ela explora como a busca incessante por prazer na sociedade moderna pode levar ao desequilíbrio emocional e ao vício.
Estímulos como redes sociais, jogos e compras online, dentre outros atrativos, criam um ambiente propício ao desenvolvimento de comportamentos compulsivos e de dependências, especialmente para alguns jovens e adolescentes que chegam a ficar 24 horas, por dia, conectados e interagindo.
E para ilustrar a importância do resgate às conexões pessoais, na semana passada tive a oportunidade de conviver com duas gerações de diferentes culturas: a pré internet e a pós internet.
Na primeira o fato se deu quando fui buscar uma encomenda na casa de uma amiga e me deliciei, por alguns momentos, em uma calorosa conversa com os pais dela: ele com 99 anos e ela com 86. Todos lúcidos, cientes de suas limitações e muito otimistas sobre futuro deles.
Fiquei encantada com a conversa. Mas o curioso de tudo foi vê-lo ler concentradamente a Revista Seleções do Reader’s Digest (sim, ela ainda existe no Brasil e continua sendo publicada mensalmente). A esposa comentou que o marido lê e relê as revistas por, pelo menos 3 vezes, até que chegue a próxima edição.
Na conversa a esposa comentou que o mal de hoje é o computador. “As pessoas ficam sem assunto para as conversas pessoais, são tristes e solitárias”, comentou a senhora. Disse ainda que esse equipamento afetava o cérebro. E ela estava certa.
Saí de lá refletindo sobre essas palavras e sobre a vitalidade do casal, que além de ler, caminham, conversam com amigos frequentemente e praticam atividade física moderada.
No contraponto, na mesma semana, conversei com outra amiga que estava a reclamar do filho de 17 anos que passava a noite jogando no computador, não estava se alimentando direito, com comportamento agressivo e pouco interesse pelos estudos.
Situações bem diferentes e que nos levam a uma série de reflexões. A cultura da dopamina está profundamente enraizada na sociedade atual, especialmente devido ao avanço da tecnologia e da conectividade digital. Isso tem levado a problemas como redução da capacidade de concentração, aumento da ansiedade e insatisfação generalizada.
O grande desafio está em como equilibrar os sentimentos de prazer e recompensa propostos pela tecnologia. Cada família, como vimos, encontra prazer em um tipo de atividade. E aqui não temos como exigir que a geração tech tenha os mesmos hábitos que a geração dos anos 40, 50, 60 e 70. É necessário adotar estratégias que ajudem a restaurar o equilíbrio do cérebro.
Sabemos que não é fácil reverter esse fenômeno cultural, mas romper com esse ciclo é essencial para manter uma vida plena, saudável e feliz.
No domingo passado a minha irmã de 50+ estava com os filhos curtindo um bloco de carnaval em plena chuva. Conexões de gerações. Vale a pena repensar os seus hábitos.
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