56 anos

Sim, tenho 56 anos! Sou alegre, proativa, saudável. Amo aprender, é uma coisa tipo assim lifelong learner, de modo que estou terminando uma outra graduação; misturada com centenas de universitários jovens, cheios de habilidades incríveis para eu me atualizar. Turma com muita ética para partilhar e alguns insolentes insultos, proferidos por aqueles criados na bolha do desconhecimento sobre a riqueza de se fazer junto na vida. Uma pequena fatia da moçada, que no mundo dos ecossistemas produtivos, ainda insiste em viver no bolhado. Mas, consideremos que o maldizer também é positivo, dado que é antecipatório ao estouro da bolha, enquanto se é jovem. Promoção do tempo para refazer conceitos e preconceitos. Todos erramos e aprender com o erro é o grande benefício do aprendizado.

Com meus 56 anos datados na certidão de nascimento, posso falar sobre NÃO ter TV, sobre tomar um copo de Coca-Cola só aos domingos, sobre andar muito de ônibus, percorrendo vários trajetos da cidade do Rio de Janeiro, apertada no meio da multidão ou chorando cansada escondidinha no assento, que só por sorte, eu consegui, ao voltar para casa às 23h, depois de várias aulas da minha primeira faculdade. Chorava e tinha que engolir o choro, porque no outro dia às 4h40 já estaria de pé para começar tudo de novo.

Posso falar dos sabores inesquecíveis dos biscoitos recheados, do requeijão, do chiclete Ping Pong e do Chokito, experiências que, infelizmente, os mais jovens não guardarão em suas memórias sensoriais. Posso contar dos finais de semana nas calçadas, para ouvir as histórias dos mais velhos e aprender com elas.

Posso falar sobre essas coisas que só a geração quarenta mais vai lembrar e posso falar também das trends mais comentadas do momento: a base da Virgínia, a expulsão do MC Guimê do BBB e o show do Coldplay em São Paulo; assuntos que talvez já estejam obsoletos no dia em que você estiver lendo este artigo. Os temas de hoje têm sido bafônicos e efêmeros.

Tenho 56 anos e faço comida vegana, aula de percussão e meditação. Sigo a StartSe, a WGSN, a Revvo e o Richard Uchoa. Escrevo na Plataforma Donadelas, escrevo Projetos Culturais e me esbaldo em um bom samba de roda.

Tenho 56 anos e estou fazendo outra graduação porque escolhi. Tô nem aí para o que o outro irá dizer, mas não posso fingir que o etarismo não existe. Existe sim! É mais um estereótipo construído pela sociedade preconceituosa e que merece ser discutido.

Aprendi na minha jornada a ser muito melhor relacionando-me: ouvindo o outro, considerando suas narrativas, interagindo com elas, selecionando o que me cabia e o que não me cabia, contribuindo com meus valores, fortalecendo-os e multiplicando-os por um mundo cada vez melhor.

Tenho 56 anos e sou feliz da vida, e você?

Beijo beijo.

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