A vida insiste

Um ano novo que inicia, mas, o quanto tem de você desejando na virada do ano, coisas incríveis para si e para os que saúda, somado às despedidas ao ano findo e aquela sensação de “o ano não virou”, tão conhecida pela maioria, desde o início da pandemia?

Muito comum, também, que façamos um balanço dos dias, e que o saldo desaponte o esperado, uma vez que o espetacular é, acredite, o superpoder de fazer um pouco todos os dias. Como podem poucas semanas entre reflexões e saldos mudarem as demais semanas?

Antes que você me pergunte porque eu daqui pergunto, mas não dou respostas: elas não correspondem à uma métrica. Não diria que não existem, pois os caminhos e necessidades são de ordem individual. Contudo, na média do que a literatura especializada e a clínica apresentam, há algumas rotas, sim!

Pense que temos uma indiscutível aptidão a sermos conservadoras, isto é, declinamos ao menos de pronto às ideias que não coincidam com o já sabido ou vivido. É uma defesa natural, até, daquilo que você sabe (ou acha que sabe) de si. Todas, sem exceção, convivemos desde o início da vida com a sensação de incompletude.

Você conhece, com toda certeza, outra sensação, a de inteireza e de absoluta paz quando na companhia do que escolheu para si, incluindo neste universo parcerias de várias naturezas e de lugares. Alguns a chamam de felicidade. Partilhada com pessoas, de amor.

Também, pensamos por conta própria desde muito pequenos, desde 3 ou 4 anos de idade, tirando conclusões do entorno vivido e/ou observado. Logo, muitos enganos foram perpetuados desde a infância, mediante conclusões pautadas em parâmetros daquela criança, não de uma adulta inserida num sistema e processos.

Portanto, não se espante em constatar que critérios de comparação são um potente reforço da natural rivalidade entre pessoas. Se destacar sem ter no outro uma sensação ruim provocada, sem dúvidas, evoca a lembrança conhecida, a de se sentir diminuída quando outra teve destaque. Sabe uma gangorra, onde um sobe para que outro desça?

Parece bastante razoável que não vejamos os aspectos menos simpáticos de escolhas pautadas no afeto. A psicanálise freudiana aponta com clareza o quanto a ambivalência é uma das principais características do ser humano. Fazemos um sem-número de coisas contra nossa vontade mais genuína, por não termos coragem de arcar com os desdobramentos de um confronto conosco. Tememos rejeições, críticas frontais e diretas, julgamento.

O erro, se é que assim pode ser chamado, não está em sonhar, mas sim com o fato de fazê-lo sem se observar: se é algo que soma, se é algo que não cabe mais e pode ser encaminhado, se é uma versão desatualizada sobre quem você é. Sonhar desconectada de todo com a realidade, pode ser um pesadelo quando a vida real concretiza o sonhado.

É claro que você encontrará novas perguntas e algumas reflexões são dolorosas. Não há viver sem dramas, caras. Nem todos os dias serão incríveis, nem você estará motivada diuturnamente, menos ainda a abrir mão de algumas pessoas e coisas que fazem parte da sua rotina.

Freud dizia que a principal tarefa de uma existência é compreender a própria mente, e isso não cabe ao longo de um ano ou de resoluções para ele, mas ao longo de uma vida.

Foque no que é importante para si e isso já está de excelente tamanho! Lembre: a vida insiste, laços amorosos sustentam e quem caminha ditando o ritmo é você.

Boa leitura e dias melhores para todas nós!

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