Você devolve a vasilha cheia?
Uma das lições de casa sempre foi: quando alguém te der uma vasilha cheia de coisas gostosas, devolva-a do mesmo jeito!
Um costume comum da cultura brasileira era a troca de delícias entre vizinhos, parentes e amigos. Minha mãe preparava um bolo e logo separava um pedaço para partilhar com a dona Teresa. Quando a dona Teresa devolvia a vasilha, vinha cheia de biscoitinhos amanteigados feitos com esmero. Eu herdei esta troca de delicadezas e jamais devolvo vasilhas vazias.
Mas, precisamos considerar que as vasilhas andam sumidas do novo viver familiar. Acabaram-se até as reuniões da “Tupperware”, onde as novidades em potes, eram disputadas com interesse. Este hábito generoso e cordial, foi se extinguindo lentamente. Poucos recipientes, poucas delícias para partilhar…
Reflexo do enaltecimento ao individualismo, que é diferente da individualidade.
A individualidade se relaciona à nossa própria identidade, nossas escolhas e comportamentos. O individualismo abraça o conceito da centralidade da pessoa em busca dos próprios interesses, sem se importar com os demais que estão a sua volta, descartando a valorização da interdependência social. Nada de potes, nada de docinhos para os vizinhos.
A metáfora da vasilha tem muito a ver sobre o quê devolvemos para o outro. Devolvemos recipientes cheios ou vazios? Com filtro ou sem filtro? Com responsabilidade? Com intencionalidade?
Somos individuais, mas só crescemos através das relações com quem não somos, por isso precisamos do outro e das vasilhas, estando cheias ou vazias…
Se ninguém falar de paz, de amor, de bem, como vai ser? Se eu não estendo a minha mão, não terei mãos disponíveis para as saudações.
O compromisso da convivência ilumina a consciência: minha e sua.
Para todos, a vida é agridoce, com simultâneo sabor amargo e doce, azedo ou doce. Sensações e sentimentos opostos, mas que se complementam.
Somos recipientes com uma quantidade de valores a serem partilhados. Você decide o que vai entregar.
E pra finalizar: alguma empreendedora DD, vendendo “Tupperware”?
Beijo beijo
Cláudia Andrade
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