Privacidade – algo preocupante no mundo digital

É muito interessante perceber o quanto a evolução tecnológica cria um impacto positivo em nossas vidas. Nos faz ser mais produtivos, ágeis, com muito mais acesso a informações e possibilidades de conexões infinitas.

No entanto, toda essa evolução sacrifica bens que nos são tão caros como a privacidade e o tempo.

A produtividade trazida pelos avanços tecnológicos nos promete tempo livre para nos dedicarmos a outras atividades, especialmente as pessoais. Mas, cada vez mais esse “tempo livre” é utilizado em outras tarefas que nos prometem agilidade para termos mais tempo livre e assim vamos conduzindo os dias. Quando percebemos, estamos totalmente envolvidos nesse “loop infinito”. O loop infinito na área de informática significa um erro de execução ou quando um determinado programa passa a repetir a mesma sequência de instrução.

Nos deixamos envolver pela promessa de um trabalho mais ágil, com tempo e recursos otimizados. As possibilidades de conexões não só com as pessoas, mas com os objetos e dispositivos nos deixam excitados a cada produto lançado ou geração de internet implantada. Imaginar que carros, equipamentos eletrônicos e elétricos, roupas, óculos e até cidades podem estar conectados facilitando as nossas vidas, nos passam a sensação de liberdade plena. E assim, sem percebermos a tecnologia invade as nossas vidas e nos torna dependentes dela.

Essa é uma revolução silenciosa e invisível. A onipresença da internet invadiu as nossas vidas e, ao contrário do que imaginávamos estamos cada vez mais visíveis na rede. Conversamos com chatbots que, com o uso da inteligência artificial, vão aprendendo sobre nossas preferências e estilos de vida. Somos mapeados a cada site que consultamos, a cada produto que buscamos ou compramos ou a cada informação disponibilizada a um robô.

E aí vem o grande questionamento: como ter privacidade nesse mundo conectado? O veículo que você adquire fornece informações sobre seu poder de compra, classe social, dentre outros. As aquisições em uma farmácia mapeiam a sua saúde, as compras por internet te expõem a uma chuva de oferta de produtos similares aos adquiridos. As músicas que você toca no seu serviço de streaming oferecem dados sobre seu estilo e até o seu humor, em determinados dias. E assim seguimos sendo estudados pela Inteligência Artificial. Mas não deveria ser o contrário? Não temos a resposta.

O certo é que em um período de desenvolvimento tecnológico acelerado é muito importante refletirmos sobre quais são os impactos causados em nossas vidas. Aqui tratamos da perda da privacidade, mas se refletirmos melhor temos tantos outros temas a serem analisados como, o acelerado aumento do sedentarismo, o isolamento social e até a depressão.

Praticamente tudo o que fazemos é controlado por empresas que cruzam as suas informações pessoais, compartilham seus dados e lhes influenciam no consumo de produtos. Parece clichê, mas estamos num “big brother” mundial.

Mas como nos protegermos disso tudo? A LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados (13.709/2018) foi um avanço no mundo corporativo. Ela nos oferece certa segurança quanto à liberdade e privacidade no compartilhamento dos dados pessoais. O seu objetivo é “proteger os direitos de liberdade, privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural”.

Mas só a LGPD garante a segurança da sua privacidade? Não podemos afirmar, pois, no contexto tecnológico a inteligência artificial é muito maior.

No ano de 2020, a filósofa e professora do Instituto de Ética e Inteligência Artificial da Universidade de Oxford, Carissa Véliz, publicou o livro “Privacidade é Poder”. Em seu livro ela traz reflexões assustadoras sobre como os dados das pessoas são tratados e comercializados por empresas que oferecerem o maior lance. São inúmeros os danos causados pela perda da privacidade de dados. Situações individuais ou coletivas podem provocar transtornos irreparáveis. Vide casos de ‘hackeamento’ de dados de grandes empresas divulgados nas mídias nos últimos anos.

Temos como nos proteger plenamente? Certamente que não. Mas alguns cuidados podem ser adotados para minimizar essa invasão:

– Não forneça seus dados para quem não lhe oferta segurança;

– Certifique-se de que quem está solicitando seus dados vai realmente utilizá-los para algo útil;

– Cuidado com aquisições em sites não confiáveis. Cuidado com o uso de cartões de crédito. Gere um cartão digital para pagamento, se não conhecer o site;

– Não compartilhe dados pessoais seus e de ninguém através de WhatsApp;

– Não poste fotos e vídeos de outra pessoa seu o seu consentimento;

– Sempre que possível, desconecte equipamentos eletrônicos da internet;

– Só forneça e-mail ou outros endereços de redes sociais se a pessoa ou empresa solicitante for de sua confiança;

– Exija a comprovação da LGPD nos estabelecimentos em que for adquirir produtos ou serviços.

Essas medidas podem minimizar os riscos da perda de privacidade, mas não garantem sua total segurança. Precisamos estar preparados para essa revolução.

Este tema tem ampla abordagem nas áreas jurídica, trabalhista e social. E em todas elas vale a pena buscar informações e se proteger de invasores.

Fique atenta.

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