Lição disfarçada
Era uma vez uma crise que pensei não poder superar. Hoje, vejo como meu desafio foi uma lição disfarçada. Vou contar para vocês como aprendi a ler os sinais.
Assim como muitas aqui, já fui empreendedora do ramo educacional por dezessete anos. Tive uma escola que atendia crianças do Berçário ao quinto ano do Ensino Fundamental. Um negócio registrado como um filho, tamanha a sua grandeza. Construído com muito esforço, delicadeza, responsabilidade e comprometimento. Com espaço físico privilegiado: pomar, horta, aulas de Yoga nos jardins, Literatura embaixo do pé de jambo… Um projeto político-pedagógico alicerçado pela cooperatividade, pelo amor, pelo autoconhecimento, pela educação sensorial.
No período da Pandemia, mantive o negócio com unhas, dentes, resiliência, inovação, toda a equipe de vinte e cinco pessoas e todos os recursos financeiros que tinha guardado. Sobrevivemos a esta fase. Veio o pós-pandemia e, junto com ele, as exigências legais para a reabertura das escolas: reformas na estrutura física, contratação de novos especialistas, número de alunos reduzidos por turmas, mobiliários adaptados… minha empresa não tinha mais dinheiro para sustentar o negócio, nem o meu sonho de uma educação transformadora. Eram dados reais e eu não poderia ser negligente e fingir que daria um jeito.
A decisão de fechar o meu tão amado empreendimento me trouxe muito medo. A antecipação de um perigo desconhecido me dava dor no estômago. Você já deve ter ouvido a célebre frase: “mais difícil que abrir um negócio no Brasil é ter que fechá-lo!”
Estar vulnerável era o meu lugar do meio, entre o medo e o enfrentamento da nova realidade. Senti frustração, vergonha, impotência, culpa e resolvi assumir cada uma dessas emoções nos momentos devidos, pensando como se cada uma estivesse em um cômodo da casa, mas nunca se juntassem para o jantar. Sabia que se fatiasse minhas dores seria mais fácil de acolhê-las e largá-las depois.
E foi nessa hora que tive que aprender a ler os sinais de tudo que me acontecia. Tinha recursos de autoconhecimento a meu favor e precisava usar esse medo que me preenchia como função poderosa de me resguardar, ativando o raciocínio lógico. Era preciso me conscientizar, mesmo sofrendo, de que poderia ser um medo bom, que me impulsionaria para a tomada das decisões difíceis, mas necessárias; que driblariam os perigos e me trariam a expansão da criatividade, encontrando respostas diferentes das que eu já conhecia, para resolver problemas nunca planejados.
Decidi agir apesar do medo, aplicando a lição tão conhecida do tempo presente: resolver a cada dia as questões do dia, beber muita água e ter sempre uma boa noite de sono. Focalizava a minha atenção no que me provocava maior desconforto e identificava as respostas do meu corpo e da minha mente. Falava com as fraquezas, dizendo que as reconhecia e que em outro momento iria ficar tudo bem. Falava com o Criador, minha força espiritual.
Chorei muito, pedi colo ao meu marido, pedi ajuda aos amigos e rezei pelo tanto de gente que me abandonou em menos de uma hora após a minha notificação do fechamento da escola.
Faz três anos que isso tudo aconteceu. Continuo trabalhando em educação porque partilho conhecimentos com um tantão de mulheres através de treinamentos, consultorias e mentorias. Escrevo no Donadelas toda semana sobre o melhor assunto da minha vida, porque é ele que me ajuda de fato a evoluir e a viver com entusiasmo.
Se você também está vivendo grandes desafios, desejo que as minhas lições te inspirem.
Beijo beijo
Cláudia Andrade
Há alguns anos comecei a pensar assim também, Claudia: “o que preciso aprender com essa dificuldade?”.
Muito corajoso seu texto, e parabéns pelo aprendizado e resiliência. Você sem dúvida nos inspira com seu exemplo e palavras. ♥️
Com o tempo a gente aprende, ou vamos nos esforçando para aprender mais…
Tudo hoje me faz, me traz sentidos diferentes e me acalmam. É bom viver essa nova experiência, esses novos jeitos de compreender.
Obrigada pela partilha e pelo carinho. 🥰