Do Comércio à Tecnologia: História de Uma Impostora por Escolha

Como empreendedora, todos os dias me vejo navegando em um oceano onde as ondas são feitas de dúvidas, decisões difíceis e o constante sentimento de não pertencimento. Fundar a Donadelas, em 2020, foi como dar um salto no escuro, e mesmo agora, anos depois, ainda me encontro questionando se estou à altura do desafio. Afinal, não vim da área de tecnologia, e a cada passo nesse terreno desconhecido, me pergunto: estou fazendo isso certo?

Desde o início, enfrentei não só as dificuldades técnicas de gerenciar uma startup, mas também as inseguranças internas que me assombram. Escolhas erradas parecem estar sempre à espreita, prontas para serem feitas, e a falta de informação ou de preparo muitas vezes me deixam paralisada. A cada nova crítica, seja de outras mulheres que não veem claramente para onde estou tentando ir, ou de pessoas que questionam meu desvio do comércio tradicional para a tecnologia, sinto aquele velho nó no estômago: “E se eles estiverem certos? E se isso tudo for um erro?”

A verdade é que cada crítica, cada dúvida, cada sentimento de inadequação, alimenta aquela voz interna que insiste que eu sou uma impostora. “Por que estou fazendo isso? Eu deveria estar feliz com o que já sei fazer, não tentando me aventurar em um campo completamente novo para mim.” Mas, mesmo com essa tormenta de incertezas, há algo dentro de mim que grita por mais, que deseja não apenas seguir o caminho conhecido, mas também pavimentar um novo.

Eu sei que não estou sozinha nesses sentimentos. Muitas de nós, mulheres, passamos por isso. Crescemos em um mundo que muitas vezes nos diz que devemos nos manter em nossa zona de conforto, que riscos são demais para nós, que devemos nos contentar com o que é seguro. No entanto, se há algo que aprendi ao longo dessa jornada turbulenta, é que o crescimento e o verdadeiro sucesso só vêm quando estamos dispostas a enfrentar esses medos, a questionar as expectativas e a seguir adiante, apesar das dúvidas.

Esta crônica não é sobre a Donadelas, mas sobre cada uma de nós, enfrentando a imensidão do desconhecido, dia após dia. É sobre o poder da persistência e da coragem, mesmo quando não nos sentimos corajosas. É sobre fazer a escolha de continuar, mesmo quando parece mais fácil voltar atrás. A cada dia, escolho dar mais um passo, decidida a não deixar que a autossabotagem, a incerteza ou o medo ditem o meu caminho.

E talvez seja isso que precisamos lembrar, especialmente quando as coisas parecem esmagadoras, quando a voz da dúvida fala alto. Podemos ser impostoras em nossas próprias histórias, mas somos também as heroínas, aquelas que, apesar de tudo, escolhem continuar lutando, continuar aprendendo e, acima de tudo, continuar crescendo. Não há garantias de sucesso, mas há a certeza de que, sem esses passos, sem esses riscos, nunca saberemos até onde podemos chegar.

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