Lugar de mãe

Já estou respirando os ares maternos por todos os lados; não que tenha desistido deles em algum momento da vida, mas, convenhamos que as propagandas do Boticário fazem-nos despertar automaticamente da vida frenética e querer um colo cheiroso para repousar a cabeça e ser afagada.

Tenho lido muito sobre as feridas da nossa infância, sobre o quanto que as relações de mãe e de pai contribuem para a formação de quem somos. Algo profundo e muito delicado.

Às vezes estamos tão preocupadas em dar tudo de melhor para o filho, que deixamos de viver o melhor, que é a própria relação do presente com ele. Um café gostoso da tarde, uma conversa, abraços, a bênção da noite e a frase primordial: “estou COM você, sempre. Conte comigo.”

Eu tenho o Amadeus, um jovem de 23 anos. Minha recomendação recorrente a ele, é: “Filho, use a sua mãe, gaste tempo falando com ela, escutando o que ela diz, duvidando até de suas palavras, recolhendo o que lhe cabe em cada momento da vida e deixando ir embora o que achar antiquado, exagerado ou meloso demais. Mantenha nossos combinados sagrados e as tarefas obrigatórias de convivermos, nos reconhecendo individuais, mas escolhidos para estarmos juntos nessa jornada chamada vida. Nosso encontro não foi por acaso. Eu vou aprender com você e você comigo”. Tem dado certo ao que os nossos valores estabeleceram como adequado e saudável. Cada família tem a sua própria dinâmica de se relacionar.

Minha mãe já partiu e a saudade nunca acaba. Fico pensando que o tempo não cura uma perda, como geralmente se diz. Ele apenas a guarda num cômodo que pode ser arrumadinho, acolhedor ou num cantinho escuro com luzes que piscam como um relâmpago nas tempestades. Ou as duas coisas juntas, dependendo da situação em que os visitamos. A ausência vai estar sempre lá.

Minha infância foi tranquila. Era uma criança adaptada. Correspondia as regras da casa, ao comportamento desejado, as notas excelentes esperadas na escola. Nada de indisciplina ou questionamento. Boazinha demais… Mãe e pai amorosos, do jeito que sabiam. Me davam livros de presente e assim eu conseguia construir uma narrativa da vida imaginada, experimentando me posicionar em novos lugares a cada história que lia.

Minha mãe também era boa demais e não gostava dos livros. Tinha pouca instrução e não sabia ler direito. Perdeu a oportunidade de sonhar através deles, descobrir que a vida não era só a nossa casa…

Quero te convidar neste Dia das Mães a pensar na sua mãe como mulher e em você como mãe.

O que pode virar uma prática nestes dois lugares distintos?

O que você pode melhorar na sua relação com seus filhos? O que pode enxergar na sua mãe como mulher e conversar com ela sobre isso, se possível?

Nosso tempo acaba um pedacinho todos os dias. Que possamos aproveitá-lo da forma mais amorosa e cuidada que existir, para não precisarmos mais do Boticário nos lembrando o cheiro e o colo de mãe.

Beijo beijo.

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