Sobre compaixão
A imperfeição humana se escancara e traz holofote mundial para cenas que não gostaríamos de assistir. Os Yanomamis choram e têm suas vidas expostas pela fotografia da vida real. Registros de um Brasil mais penetrante que qualquer espinho da Floresta Amazônica.
Cada corpo um texto. Cada face uma história.
As produções das tribos, sempre coletivas, enchem agora, balaios de gente que sofre e que despertam em nós, com urgência, o impulso de ternura para com o sofredor, lembrando-nos de que somos todos um. Somos gente da mesma terra.
Assim como nossos irmãos, Povos Originários, um dia fomos só sementes. Depois brotamos.
Por quais terrenos temos edificado nossa morada dos valores?
Em quais terrenos estamos plantando flores?
Que terrenos baldios estão escapulindo de nossas vistas, porque preferimos não ver?
Por quais terrenos deixaremos nossos frutos e novas sementes para germinar?
A semente sempre lembrará o novo e todas as possibilidades de escolha. As sementes são ancoragens das almas confusas e impactadas pela dor. São a certeza da contínua possibilidade de renovação.
Há algo que cochicha conosco e nos acompanha sempre que nossa gente é ferida. Um aviso que chega trombando, lembrando-nos de tomar posse dos territórios sequestrados de nós mesmas. Revisitar nossos cantinhos e nosso jeito de compreender o mundo.
E para isso, também há novas sementes a plantar. As sementes da esperança que nos salva e que nos agrega enquanto irmãs.
Que a nossa tarefa primordial, para além dos nossos ofícios, seja a tarefa de continuarmos humanas, experimentando nossos sentimentos e não nos tornando indiferentes às mazelas da vida. Reavaliar a nossa capacidade de sentir, desenvolvendo a empatia e o altruísmo.
Ter compaixão é não estar indiferente diante da dor do outro. Todas nós doemos, em diversos momentos da nossa caminhada.
As mesmas mãos empreendedoras que produzem trabalhos extraordinários, produzem solidariedade, amor, compromisso com a Terra, compromisso com o pertencimento. O amor orgânico e visceral não se esgotará. Ele é a cola que nos une enquanto espécie. É algo vivo, que se encaixa, se descortina, se adapta, se transforma. É a ponte que nos liga à essência, às nossas raízes e à semente original de onde viemos.
Como humanas que somos, continuaremos sensíveis umas com as outras e com todos aqueles que sofrem. Que assim seja.
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