Ser humano é ser uma máquina?
“O cérebro eletrônico faz tudo
faz quase tudo
mas ele é mudo!
O cérebro eletrônico comanda
manda e desmanda
ele é quem manda
mas ele não anda!”
Você se lembra que na última coluna, perguntei se quem se desconhece acaba por alimentar em si a tão temida procrastinação? Arte, filosofia e psicanálise vão tecer uma colcha de saberes para responder essa pergunta tão atual.
“Eu cá com meus botões de carne, eu falo e ouço, eu penso e posso”, diz a canção de Gil, uma celebração à chegada da tecnologia, com as necessárias ressalvas de que antes da máquina, há o homem e sua capacidade de duvidar, herdada e estimulada pela filosofia.
Segundo a filosofia de Hobbes, nada sem substância factível pode existir, então tudo existente no universo é físico. Ser humano é ser inteiramente físico; logo, o homem é uma máquina. Resumidamente, os humanos são máquinas de carne e osso.
Para a psicanálise, a realidade é que as pessoas que procrastinam são as que ficam no meio do caminho entre a intenção do que se pretende concretizar e o produto palpável de tudo isso, completamente desconectados entre si, no presente. Em atendimento, o acolhimento é certo, pois procrastinar é algo comum, no entanto, o cruzamento entre frequência e intensidade dos eventos que se adia esbarra na sensação de alívio a curtíssimo e imediato prazo e na culpa bastante dolorosa, verbalizada em sucessão de fracassos. Curiosamente, uma característica facilmente encontrada em procrastinadores é a de buscar resultados perfeitos versus adiamento eterno das tarefas.
“Só eu posso chorar quando estou triste, só eu!”. Desculpe, Hobbes, a vida é além de movimentos dos membros. É um diário circular dos afetos. Por isso, quem procrastina sofre para além do que adiam no presente, pois rememoram os eventos do passado.
Normalizar onde errou neutraliza a sensação de culpa. O suporte terapêutico, de gestores e de mentores é fundamental quando essa etapa acontece, pois se identifica que não é mais a tarefa e sim você se deixando para depois.
Releia novamente o título e guarde para si essa valiosa observação: você não é uma máquina!
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