A tecnologia da periferia
No artigo passado conversamos sobre a humanização da tecnologia. Um movimento crescente que vem buscando dar vida, ou melhor, alma a todo esse maquinário que existe ao nosso redor e que nos torna dependentes dele.
Hoje trago um tema que muito me atrai e que passei anos a fio convivendo com ele: a criatividade dos inventores e como a inovação tem vez e voz na periferia do poder.
Passei uns 8 anos da minha vida profissional convivendo diretamente com inventores e inovadores, com ideias tão maravilhosas e surpreendentes que me perguntava: como alguém não pensou nisso? Algumas delas bem malucas, mas tão bem estruturadas pelo inventor, que você passava a acreditar que elas poderiam se concretizar.
Tenho muito orgulho por ter ajudado a redigir muitas cartas patente de produtos ou processos que hoje estão no mercado e de, ainda, ter o prazer de acompanhar a resposta de cada análise emitida pelo INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial, em seus inúmeros cadernos editados. Era uma tarefa bem difícil, pois não havia internet e precisávamos pesquisar os inventos página por página, para identificarmos se não havia algo similar ou igual àquele depositado, ou pedido, pelo inventor.
Mas de toda essa experiência vivida ficou um legado, reconhecer que somos um povo super criativo e engenhoso. Muito boa essa convivência!
Agora, mais recente, me vi novamente em meio a essa reflexão sobre as inovações e invenções do nosso povo. Em uma palestra sobre Cidades Inteligentes, a palestrante lançou uma provocação com a seguinte frase: “a inovação só acontece quando o poder não está no centro. Inova quem está na periferia do poder”.
Depois de ter refletido sobre essa provocação cheguei à conclusão de que a frase é bem verdadeira. Quantas engenhocas vemos nos interiores do Brasil e nos bairros mais periféricos dos grandes centros urbanos? E a pergunta volta – como eu não pensei nisso? Ou como foi que ela (ele) pensou nisso? Existem alguns filmes engraçados nas redes sociais com a frase “a NASA precisa saber disso”. E é verdade.
A necessidade faz a oportunidade, alguém já disse. E como de necessidades o povo brasileiro entende bem, isso acaba sendo um campo aberto para a criação.
Mas, apesar de toda essa engenhosidade do povo brasileiro, ainda apresentamos um número baixo de depósitos de patentes, se comparado a países mais desenvolvidos ou com capacidade maior inovação.
O mais curioso é que muitas pesquisas e inovações desenvolvidas em Universidades e Institutos de Pesquisas brasileiros acabam sendo reconhecidas e apropriadas por Universidades internacionais, o que nos força a ter que compartilhar o registro dessas patentes.
É um assunto instigante e que envolve políticas públicas para a educação, ciência e tecnologia, principalmente. Um tema que os governantes deveriam colocar em sua pauta principal. Vide China, Korea, Índia e outros países.
No ano passado, em audiência pública da Comissão Senado do Futuro, esse tema foi debatido e considerado preocupante, pois o número de pedidos de patentes vem caindo ano a ano. “Em 2013 foram 34 mil registos no INPI e em 2020 o número fechou em 27 mil”, segundo o representante do Conselho Diretor da Associação Brasileira da Propriedade Intelectual (ABPI), Gustavo Morais. Fonte: Agência Senado.
A nossa expectativa é que esse número cresça nos próximos anos e que seja vencido o desafio de tornar o depósito de uma patente algo mais prático e ágil para a sociedade, especialmente quanto à legislação.
Nenhum país promove seu desenvolvimento se não for estimulando e protegendo suas inovações. Desejamos que essa reflexão avance e se concretize nos canais decisores.
Enquanto isso não acontece deixamos a dica: apesar das dificuldades, não deixe de criar ou inventar produtos ou processos que façam a sua empresa produzir mais e gerar valor. Isso é bom para o negócio, para o cliente e para o mercado.
Sucesso!
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