O dia em que Ícaro, Amadeus e uma mãe aflita se encontram com uma Psicanalista
Caras empreendedoras, mudança de planos: interrompido o cronograma da coluna por um nobre motivo. Sei que você, também habituada ao jogo de cintura feminino ante o inesperado, há de entender. Aliás, se identificar em alguma medida. Vem comigo que, ao longo do texto, entenderá porque é tão valioso pausar e abraçar o presente, para abençoar o futuro .
Ícaro. Na mitologia grega, foi o garoto que
usou penas de aves para voar, alertado
por Dédalo, o pai, no iminente perigo de
chegar muito perto do sol, pois o calor
poderia derreter a cera que unira as
penas. A despeito das orientações, ousou
voar alto o bastante até que derretessem,
caindo no mar Egeu.
O mito de Ícaro deixou o legado de absoluto deslumbre pela liberdade do vôo e pela beleza do céu. Li-ber-da-de. Também, e não menos importante, a mensagem de seguir a orientação dos mais experientes, balizados pela sabedoria da vida, muito além do letramento.
Alguns milênios depois, chegou a notificação via e-mail e whatsapp: S.O.S.
Arianne! De lá, fala Cláudia Andrade, que conheço e me reconheço na nossa rede social de empreendedorismo feminino, a Donadelas, onde ela é colunista; eu, também. Diretamente do metaverso, despida de qualquer vaidade, uma coluna toda conversando comigo e demais mulheres da rede, falava uma mãe saudosa do vôo de Amadeus, que agora todas conhecemos -ainda- como o filho da Cláudia.
Meta é prefixo grego que significa posição de mudança, intenção, mira. Verso é cada linha que compõe um poema. Amadeus, do metaverso virtual, rumo à escrita de cada linha da mudança a protagonizar a própria vida, recém-nascido no metaverso real.
Cantar histórias, ensinou Tom Jobim, é contar as histórias que são de ninguém, minhas e de você, também. Vou lhes contar uma história. Eu tinha 22 anos incompletos quando fui ocupar um imóvel de 30 metros quadrados, para viver uma nova vida, na megalópole brazuca, olha que vidão me aguardava? #sqn! Era adulta, recém-formada, duas faculdades, destemida, estudiosa e nada sábia. Graças a tanto, pude errar muito, acertar algumas vezes e aprender com todas as vivências que me trazem até aqui.
Nos idos 2000 e tantos, de próprio punho, meu pai escreveu a letra de Skyline Pigeon, que punha sob o travesseiro a cada vez que meu apertamento (apartamento+aperto) era maior que os poucos espaços livres na casa permitiam ou a vida corrida de 4 turnos (baby, você está na cidade que não dorme! Não pare!) deixavam a saudade bater.
Escrevia cartas, pois a grana era curta para um interurbano (Amadeus e Cia não são da época que se esperava dar meia-noite para ligar com desconto) a aplacar a ansiedade de ouvir as vozes que sempre fizeram parte do meu mundo, em tempo real. “Let me fly to distant lands“, certamente, num total de zero dúvidas como diz a geração dele, recebeu mais lágrimas minhas que meu analista à época. A carta não resistiu ao tempo, mas fecho os olhos e sinto neste minuto o abraço que ela me dava simbolicamente.
Que alegria, hoje, quando as saudades coincidem, abrir o vídeo para conectar distâncias.
Pessoas, conectando sentimentos, encurtando fronteiras. Na psicanálise, se sustenta a ideia de que no silêncio cabem todas as palavras de todos os dicionários do mundo todinho, para que possamos levitar, ousar, delirar, imaginar, e por que não, re-co-me-çar. Cláudia, minha cara amiga virtual, me perdoe, mas não tenho palavra alguma que console essa travessia. Posso ofertar meu aconchego em linhas desconexas enquanto acalanto as lembranças da Arianne aos 22 de Amadeus, vendo essa história por outra perspectiva, tal qual Ícaro, tal qual Amadeus.
Seu texto falava dos partos, o no mundo e o para o mundo. Acho que a saudade ainda é grande o bastante para perceber que nasceu e está engatinhando num inédito mundo onde há a mãe que aprenderá a ocupar o quarto curiosamente vazio e tão cheio da presença dele. Quando você crescer, adolescer e pudermos rir dessa deliciosa e louca vida, faremos uma chamada virtual cheia de presenças e brindaremos aos que ousam e se arriscam.
E enquanto isso, o que você vai fazer?
Ora, você vai viver!
Obrigada, por confiar a mim, um momento tão valioso na sua história! Beijo em você e outro no Amadeus, tá?
Arianne, a que agora vai correndo dar um beijo na mãe.
Nunca é demais agradecer e dizer o quanto palavras e afetos nos envolvem em escuta e conforto.
Ariane, sua narrativa tão lúcida e delicada me trouxeram as tabuletas que precisava neste momento.
É muito bom estar numa rede que não é de pesca, é de tramas que se encontram, partilham e constroem.
Grande beijo pra você!