Neutra, adstringente, emoliente: quem é você?

Queridas leitoras, a coluna da semana é, literalmente, um banho imersivo, daqueles longos e cheios de aromas e texturas especiais que pouco ou nunca experimentamos. Inclusive, aqui, cabe um convite para você, para mim, para todas e , em especial, para a Claudia Andrade , nossa colunista Donadelas que me lançou esse pedido «por que não comprei meus sabonetes? Preciso de sua ajuda! » , onde compartilha suas inquietações que não desceram ralo abaixo na hora do banho: por que não escolheu um sabonete para si e usa o do marido, há muitos anos.

Ah, o afeto! Em psicanálise, afeto é substantivo e verbo. Substantivo enquanto palavra que significa, aqui para o entendimento de todos, como sentimento, em suas nuances positivas e negativas. Verbo enquanto conjugação de afetar. Em ambas as possibilidades, percebam, que afeto é tudo que afeta. Causa ou consequência, neste caso, parece causa. Ensaboar-se segundo as próprias escolhas, é consequência.

O marido de Cláudia tem a pele sensível, alérgica, que o restringe ao uso de um produto específico. Fim. Ela, por solidariedade, amor, cumplicidade até debaixo d’água, usa junto, mas não tem nenhuma questão de saúde associada. Dia desses, derrapou em si na corajosa pergunta de não ter adquirido, até hoje, o seu aroma favorito. Uma nota importante é que ela atua na área de autoconhecimento e desenvolvimento de pessoas, se analisa, se observa, é ciente da importância de termos a coerência entre o que fazemos por nós e que transborda onde atuamos. Eu, respondendo de cá o seu pedido, querida Cláudia, apenas peço que acolha sua demasiada humanidade; mas também cogite flertar com as combinações deliciosas das lojas especializadas do meio, para todos os tipos de pele!

Nesse segundo momento, o mencionado no início da nossa conversa de hoje, o do banho imersivo, agora sim Cláudia, saiba queeu também demorei um bom tempo para escutar o que de fato é essencial. Por isso que em atendimento, pensemos juntas, são necessárias algumas sessões para que devolutivas adequadas sejam feitas, pois aí já tem uma estrada onde já se descobriu que o essencial está além das palavras, já que toda fala é uma demanda.

E, seguindo esse raciocínio psicanalítico, o amor é direcionado àquela pessoa que achamos conhecer a nossa verdade e nos permite imaginar que essa verdade será gentil, agradável, enquanto na verdade é muito difícil de suportar. De todas as miragens, o amor é a maior. Não me brigue, mas sim puxe as orelhas de Freud, a frase é dele. O amor é o delicioso suporte da ilusão de ser. Muita atenção aqui: ele nos suporta e exatamente por isso na ausência dele somos azedos. Zero sabonete, do neutro ao adstringente Mal-amados, sabe?

Por isso, os humanos são capazes de introduzir novos significados no amor e exatamente por isso, um mesmo sabonete para duas pessoas diferentes e de interesses e necessidades individuais. Há muitas formas de conversa amorosa e cada uma gerou diferentes relacionamentos. Ignorar nosso próprio desejo é quase desistirmos de algo que para nós é muito importante. Ah, sabonete, quantos desdobramentos a sua não compra provocou?

Cláudia, um cheiro em você e nas nossas leitoras, também, de sabonete emoliente: suaviza, amacia, deixa a pele mais flexível. A cabeça e o coração, também!

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Comentários

  1. Querida, não poderia ser diferente ” a sua escuta” e o seu olhar psicanalítico tão apurado.
    É verdade que nos enredamos no amor e construímos assim tantas ausências na identidade do Ser.
    Irei ao Shopping no final de semana comprar meus próprios sabonetes e deitarei no divã em busca do real perfume da minha pele.
    Gratidão! Um grande beijo.❤