A vida é um emaranhado de nós
Na nossa coluna da semana anterior, falei logo no início da importância de um relacionamento íntimo consigo própria, como esse diálogo acontecia. Algumas leitoras me pediram para explorar essa ideia e cá estou “pensando em voz alta”.
Trago um alerta importantíssimo para quem tem a gostosa, porém ilusória sensação de controle: a fragilidade do laço consigo e, por tabela, com os demais, é algo que pauta a psicanálise de muitos analisantes vida afora.
Para ter mais certezas, tenho que me saber de imperfeições, já alertava Manoel de Barros, tempos atrás, mas sabe o porquê? Aquilo que não queremos lembrar, acabamos repetindo. A repetição é um dos conceitos fundamentais da psicanálise e em análise. O caráter compulsivo da repetição está sempre atrelado à pulsão de morte: pura quantidade, afetos sem representações, projetados a esmo, enquanto elabora. Ou, tenta. Saindo dos termos psicanalíticos e aplicando na linguagem cotidiana, é o se repetir de diferentes modos, sem consciência alguma de que está agindo de tal forma, na dita repetição de conteúdo similar. Sabe quando você quer sair de um lugar mas não consegue?
É possível acessar pela repetição, os conteúdos que não são facilmente acessados no nosso inconsciente. É importante que você entenda que esse conceito não é uma recordação, mas sim um precioso ato enquanto a importância ou o sentido dado não se esvazia e a sua versão não muda.
Mas, Arianne, por qual motivo isso acontece? Baixa autoestima é um sentimento de menos valia, ou seja, tem um bocado de gente se sentindo de menos, na certeza de não ser capaz. Curiosamente, quando algo dá certo, você desmonta por não saber o que fazer com aquilo.
Fragilidade, insegurança e medo, fazem a pessoa literalmente sofrer: viver pode ser algo negativo e desagradável. Se você sofre com a autoestima, tema ao qual dediquei as duas colunas anteriores, é bastante provável que leve em consideração se lembrar das suas características vistas como negativas e, as ações como fracassadas; bem como desconsidere qualidades identificadas, habilidades e/ou conquistas.
Ainda que você valide algumas coisas positivas sobre si ou sua vida , a tendência é minimizar a importância ou valor delas, não levando crédito pessoal por cada uma mesmo quando for o caso.
Na escuta de consultório, é comum mulheres pulando de alegria por se saberem desejantes até o extremo oposto: “não me lembro, não consigo, choro por não me conhecer”.
A maior parte de nós, por razões várias, espera ouvir algo como: “mude sua ação e sua atitude em A e B que você viverá emoção C e D, novos resultados e uma vida nova em folha!”. Lamento frustrar, a ideia aqui não é treinamento nem injeção de ânimo, trabalho ético é pautado em evidências e caso a caso. A única coisa em comum a todos que trabalham com comportamento se chama consistência. O tal relacionamento íntimo consigo mesma. O diálogo carinhoso mesmo nos dias de trovão aí dentro.
Responda para você e para mim: como você obtém resultados satisfatórios no que está dando errado sem mudar algo aí? Do relacionamento com os demais ao manequim de roupa, passando pelo estudo para concurso e dando aquele esbarrão na atividade física e etc?
Diálogo, caras leitoras, é isso. Não é fácil, nem indolor, mas é libertador.
Sozinha, você não está, nosso time está aqui esperando você dar o primeiro passo.
“Diálogo… não é fácil…mas é libertador”! Texto que atiçou meu diálogo! Muito bom!