A culpa é do home office?
Abençoados eram os dias em que eu acordava as 4:45 h, tomava banho, fazia maquiagem, colocava uma cinta, roupa elegante, salto alto e pegava a chave do carro para começar o dia em reuniões de negócio e depois seguia para a minha empresa.
As raízes dos cabelos estavam sempre tingidas e as unhas com uma francesinha impecável. Corria de um lado para o outro e fazia pausas deliciosas para conversas corriqueiras no almoço, que não era feito por mim.
Tinha meia hora de descanso e sempre limonada gelada no frigobar da minha sala, preparada com limões do meu próprio pomar.
Voltava para casa às 18, 19 ou 20 horas, dependendo do dia e ouvia a rádio Alvorada no carro, tocando músicas agradáveis, intercaladas com as notícias do que tinha acontecido no dia.
E aí o home office chegou, me pegando de surpresa e me convidando a uma rotina triplamente abençoada: trabalhar no conforto da minha casa, com quantas horas de descanso eu quisesse e sem passar os dias de salto alto? Até a minha lombar festejou. Isso certamente seria o paraíso na Terra.
Celebrei, fiz fotos de pijama, gravei vídeos de cabelo molhado, reuniões usando Havainas. O que mais uma mulher poderia querer? Estava bebendo água na fonte da liberdade.
Mas, como o Universo é sempre dual, o tempo passou e as pilhas recorrentes de louça fizeram minhas unhas sem esmalte descamarem, a raiz do cabelo ficou branca e permanecer sentada por tanto tempo no computador me fez engordar. E a limonada gelada virou a garrafinha de água filtrada que eu tenho que encher, se quiser bater a meta salutar de três litros por dia.
O que deu tão errado nisso tudo? A negligência comigo mesma, a falta de autocuidado seria uma tirania do home office? Ele é o culpado?
O meu texto hoje tem a função de trazer perguntas importantes de serem pensadas: de que maneira você aí, anda contando a sua história? Ampliando as lentes sobre todos os requintes e mazelas, como eu fiz, ainda que tudo descrito tenha sido verdade? Será que tudo foi justamente como eu contei ou foi o meu olhar de hoje sobre cada fato?
Não é o home office, não é a tv, nem as mudanças no mundo que são os algozes do comportamento; podem apenas ser gatilhos provocando novas adaptações. O significado que você dá a tudo que acontece é o que vira parte da sua história.
Sabermos identificar e lidar com padrões que nos deixam desconfortáveis ou confortáveis é um importante assunto para debatermos aqui, nesta Rede cheia de mulheres incríveis, únicas e muitas vezes confusas. Não ter medo de compartilhar vulnerabilidades é algo que vai nos fazer cada vez mais fortes e autênticas.
Mulher é complexa mesmo. Perceba-se e veja os sentidos que você vem dando às coisas que te acontecem. Às vezes, você, assim como eu, está precisando de alguns ajustes e tudo bem por isso.
Comentários