Moda Sustentável – Soluções conscientes

No artigo da semana passada discorri sobre o tema Moda e Sustentabilidade. Foi bem instigante porque, além dos dados que busquei para compor o artigo, aproveitei para conversar com amigas que operam no varejo da moda.

No bate papo percebi a surpresa de algumas delas em saber que a indústria da moda é uma das mais poluidoras do mundo e que contribui significativamente com a geração de toneladas de resíduos sólidos, desde a produção da matéria prima até a comercialização e utilização das peças.

O interessante é que quando falamos de moda sempre nos vem o lado positivo e glamuroso do setor. E isso é muito bom, pois ele é gerador de empregos, é um dos segmentos de maior faturamento no mundo, contribui significativamente para o PIB de um país, estimula a economia criativa, ajuda na definição estilos de vida e da cultura de um povo e tantos outros atributos que daria para escrever um livro.

Porém, essa indústria carrega consigo alguns aspectos que precisam ser repensados e melhorados. E na conversa com as amigas vieram duas perguntas:

– Que poluição é essa que a gente não percebe?

– O que está sendo feito para minimizar os impactos ambientais?

Vamos às respostas de forma bem objetiva.

Sobre a poluição

– Em 2023 a geração de resíduos têxteis, no mundo, fechou em cerca 92 milhões de toneladas, com apenas 12% recicladas. No Brasil, como os dados não são atualizados ou consistentes, são estimadas entre 1,3 e 4 milhões de toneladas de resíduos, por ano. Segundo Sebrae “apenas 20% das roupas são recicladas ou reaproveitadas”. Parte das sobras de tecidos ou peças finalizadas e descartadas vão parar nos lixões e aterros sanitários, sem nenhum tipo de tratamento.

– Poluição da água. O processo de tingimento de tecidos (tintas e corantes), especialmente o jeans, utiliza produtos químicos que, sem o tratamento adequado, contaminam o solo, rios e mares, a fauna e a flora

– Microplásticos. Muitos tecidos possuem em sua composição fibras sintéticas que contribuem para a poluição tanto no processo de fabricação, quanto na lavagem das peças (resíduos liberados na lavagem).

– Agricultura intensiva na produção de fibras. O algodão utiliza grande quantidade de água e pesticidas em seu processo produtivo. Esse processo contamina as águas pluviais.

– Utilização de mão de obra intensiva. O setor, apesar de gerar emprego, ainda utiliza mão de obra barata, sem a devida proteção trabalhista, sem capacitação adequada e, em alguns casos, operando com mão de obra escrava.

Sobre as práticas sustentáveis.

– Produção de algodão orgânico. O Brasil é destaque nesse tipo de cultura e o estado da Paraíba é o pioneiro no cultivo de algodão limpo e sustentável.

– Uso de tecnologia avançada no processo de separação das fibras sintéticas e vegetais na produção e descarte de tecidos. Algumas empresas de grande porte estão investindo em inovação no processo produtivo.

– Tratamento de efluentes no processo de tingimento. A utilização de biotecnologia e filtragens com carvão ativado têm minimizado os impactos ambientais antes do descarte das águas.

– Planejamento estratégico das empresas focados no ESG. Implantação de programas de sustentabilidade em micro, pequenas, médias e grandes indústrias têxteis tem trazido resultados positivos.

– Controle nas emissões de carbono e implantação de programas de carbono neutro, com plantio de árvores.

– Utilização de energias renováveis no processo produtivo e implantação de programas de eficiência energética.

– Reuso de águas do processo industrial e implantação de sistemas de coleta de água da chuva.

– Valorização da mão de obra com a implantação de programas de capacitação, construção/ convênios com creches. A implantação de programas de diversidade e inclusão produtiva, além de ser uma exigência para grandes indústrias, tem sido praticada por empresas de micro e pequenos portes.

– Brechós, cultura da moda circular, locação de roupas e sapatos são outros bons exemplos. A reciclagem através de organizações tipo upcycling, em que a empresa dá novos usos aos produtos que seriam descartados, tem sido uma excelente iniciativa de sustentabilidade no setor.

O certo é que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer, mas é fundamental que as empresas se comprometam em mitigar e reduzir os impactos ambientais em seus processos produtivos, do contrário chegaremos a um ponto de saturação sem retorno.

Portanto, antes de consumir pense.