Só sabe o que é dor, quem sente a dor
“Ai, estou morrendo de dor de cabeça”… “Não é nada não. Toma um analgésico que logo passa”. Esta conduta tão corriqueira e cheia de boas intenções se instala na gente e o piloto automático responde primeiro, deixando um lugar seco diante do sofrimento dos outros.
Recentemente vivi um episódio onde dores antigas foram vomitadas na nova sala de estar de todos nós: o grupo da família do whatsapp. Uma pessoa trouxe a tona aflições de anos atrás, fazendo uma narrativa de situações, aparentemente, já esquecidas por todos.
Foi um vendaval sem precedentes. Quando uma casca da ferida é levantada, líquidos brotam e escorrem, respingando em mais gente.
No código popular bastante conhecido: chegou a hora de lavar a roupa suja: Quem está com a razão? Quem está doida? Pra quê remexer no passado?
Depois de muitos áudios, textos e silêncios que incomodaram muito mais do que qualquer ofensa proferida, me ficaram preciosas reflexões para dividir com vocês:
– Não desqualifique a dor de outra pessoa. Se alguém explodir, não reaja. Pode estar acontecendo neste episódio, o livramento de um AVC.
– Não existe tempo certo para se dizer coisas que entopem as veias. As inflamações da dor ficam por anos, alojadas do lado de dentro. Quando elas saem, aparentemente do nada, é porque chegou o tempo da limpeza. O tempo da restauração.
– Quem fala e se expõe deve ser respeitada. E precisa estar preparada para ouvir o outro com o mesmo respeito que lhe foi concedido. É uma via de mão dupla. Ao abrir a porteira, muita gente passará por ela, opinando sobre pontos de vista certos e errados.
– Cada um enxergará uma mesma situação de jeitos diferentes. Não tente encaixotar tudo na mala verde que você carrega. Considere que há malas vermelhas, amarelas e roxas também.
– Contrariando o que me parecia uma regra bem vinda, descobri que o silêncio nem sempre é bom. Ele pode sinalizar descaso. Quem vomita a sua dor, está pedindo que alguém a ajude a limpar a sujeira, ou que a xinguem pela sujeira. Essa pessoa não quer ficar sozinha, porque talvez, este seja o verdadeiro motivo de tudo isso ter acontecido.
– Pegue o que te cabe, deixa o vento levar o que não te cabe. Apazigue e use o que tiver de melhor para ajudar a tratar das lesões que ficarão abertas.
– Julgamentos sem perdões, formarão novos furúnculos.
– E nunca se esqueça: amanhã a dor poderá ser sua!
Beijo beijo
Parabéns! Muito profundo
Obrigada, Maria Angélica! É profundo mesmo. Nos faz refletir sobre nossas dores e as dores dos outros, considerando que todos somos frágeis e queremos abraços apertados. Beijo beijo pra você.