“Pra tudo se acabar na quarta feira…”
Quem dera minhas palavras fossem só polêmica entre os que gostam do Carnaval e os que não gostam, em seus princípios e valores.
Tão bom o tempo em que essa era a discussão das rodas pré-carnavalescas: pular num bloquinho ou viajar para um retiro espiritual? Sinto até saudades deste tempo, onde depois de cada ponto de vista defendido, ficava a livre escolha e o entusiasmo das pessoas onde elas estivessem: no aconchego do chalé na Serra ou na folia dos grandes centros. O importante era aproveitar o período de feriado extenso, quando todos estavam de comum acordo em um quesito: era o tempo oportuno de descanso mental, para engrenar no trabalho depois. Afinal, no Brasil tudo começava depois do Carnaval.
Hoje, até essas polêmicas foram esquecidas, como o próprio feriado que me surpreendeu nesta sexta feira em que vos escrevo, um dia antes do Carnaval de 2022. Carnaval? Que Carnaval? Logo eu que sou do time dos batuques, como não percebi a chegada deste dia?
O trabalho home office faz essas coisas. Nos perdemos no tempo e não mais participamos do “vuco vuco” pré-feriados. Estamos ficando sozinhas em nossas ilhas, mesmo conectadas a tanta gente. Já perceberam que os encontros online nunca são para bater papo sobre festas, futebol, viagens? Têm sempre uma reunião de negócios, uma live de conteúdo e o trabalho não tem mais dia, nem hora, nem feriado. Quando a gente assusta o tempo já chegou e já passou. Do mesmo jeitinho veloz, sem fantasias ou gincanas no retiro. Mundo esquisito esse tempo que estamos vivendo!
E mais que as esquisitices das datas esquecidas, estamos deixando de celebrar a vida. Lembrei-me da Marcha da quarta-feira de cinzas, que Vinícius de Moraes compôs em 1963 (?) e que está totalmente atualizada, 59 anos depois. Socorro! Isso se chama processo evolutivo invertido.
“Acabou nosso carnaval
Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
E sai caminhando…”
É triste e melancólico: a gente hoje também não tem se visto. É como se só sair caminhando já bastasse. Esse é um dos sentimentos mais danosos para a nossa saúde emocional: a falta de esperança.
E Vinícius propõe:
“ É preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar…”
Trago a você um grito de amor, para que você não deixe tudo se acabar na quarta-feira. Que o começo do ano pós Carnaval, venha fantasiado da alegria e da esperança; dos encontros e dos risos, na quinta-feira, na sexta, no sábado… na tua vida toda!
Beijo beijo.
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