Feminismo hoje: Estamos Construindo Pontes ou Muros?

Mulher caminhando em uma rua ao entardecer, representando reflexão sobre o feminismo e a interseccionalidade.

O feminismo nasceu como um movimento de luta por direitos. As mulheres se uniram para conquistar o direito ao voto, ao trabalho, à educação, ao próprio corpo. Era uma questão de justiça e igualdade. Hoje, vivemos um momento diferente, uma terceira onda do feminismo (ou talvez já uma quarta) em que novos debates surgiram. O conceito de interseccionalidade, por exemplo, trouxe a importante reflexão de que as mulheres não são um grupo homogêneo e que as experiências de opressão variam conforme raça, classe, orientação sexual, identidade de gênero e outros marcadores sociais. A interseccionalidade, um termo cunhado pela jurista Kimberlé Crenshaw, refere-se exatamente a essa sobreposição de diferentes formas de discriminação que afetam determinadas mulheres de maneira única.

Até aqui, tudo bem. Reconhecer as diferenças e as múltiplas camadas de desafios enfrentados por cada mulher é fundamental para um feminismo mais justo e representativo. No entanto, o que deveria servir para ampliar o diálogo parece, muitas vezes, criar novas divisões. Em vez de fortalecermos umas às outras, nos fragmentamos. Se a minha dor não é “suficiente”, se a minha história não tem um marcador de opressão “relevante”, será que minha voz tem menos valor? Se uma mulher que cresceu em uma família tradicional, católica, casada e com filhos deseja discutir as dificuldades de ser mulher no mundo, ela tem menos legitimidade do que outra mulher que enfrenta camadas diferentes de opressão?

É claro que é preciso ouvir e dar espaço a quem historicamente foi silenciado. Mas será que, ao construirmos essas divisões tão rígidas, não estamos nos afastando umas das outras? Será que não estamos erguendo muros quando deveríamos estar construindo pontes?

Olhando ao redor, percebo um cenário de cansaço e solidão. Muitas mulheres se sentem isoladas, sem um senso de pertencimento, porque qualquer posicionamento parece uma linha tênue entre estar “certa” ou “errada” dentro do próprio movimento. O feminismo que nasceu para unir e fortalecer agora parece, em alguns momentos, nos afastar. Será que podemos resgatar o sentido original da luta, sem ignorar as diferenças, mas sem permitir que elas nos separem?

Este não é um artigo de respostas, mas de perguntas. Como podemos equilibrar reconhecimento e inclusão sem transformar o movimento em uma disputa de legitimidade? Como podemos garantir que todas as mulheres tenham voz sem que isso implique silenciar outras? Se o feminismo é, antes de tudo, sobre liberdade, será que estamos realmente nos libertando ou apenas trocando um conjunto de regras por outro?

Quero ouvir outras vozes. Como vocês enxergam essa questão?

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