Da mulher que faz tudo para a mulher que pede ajuda: o primeiro passo

Há momentos em que ideias se encontram e algo poderoso acontece. Foi exatamente isso que senti ao unir o conceito do Pipeline de Liderança à jornada emocional das mulheres donadelas. A sobrecarga, a dificuldade em delegar, o sentimento de que “só eu dou conta”—tudo isso reflete não apenas uma forma de viver, mas também um padrão psíquico profundamente enraizado.
Essa conexão me inspirou a escrever uma série de quatro textos, e este é o primeiro. Vamos começar do início: da mulher que faz tudo para a mulher que compartilha.
A mulher que faz tudo: o ciclo da exaustão
Ela acorda antes de todo mundo e dorme depois de todos. Organiza, antecipa, cuida, executa. Não precisa nem pedirem—ela já sabe o que falta, o que precisa ser feito, quem depende dela. E, se ninguém percebe, melhor ainda. O trabalho invisível se tornou sua especialidade.
Mas a conta chega. E chega cara. Cansaço crônico, ressentimento, a sensação de que ninguém valoriza tudo o que ela faz. Ainda assim, delegar é difícil. Pior: pedir ajuda soa como fracasso. Como admitir que não dá conta? Como confiar que os outros farão direito?
Por trás dessa exaustão, há algo muito maior que uma sobrecarga logística: há uma identidade construída sobre o excesso de responsabilidade. Como se ela valesse pelo que faz pelos outros, e não pelo que é.
Pedir ajuda é um desafio, mas há algo ainda mais difícil: compartilhar responsabilidades, não apenas tarefas. Quando uma mulher centraliza tudo, muitas vezes ela não está apenas acumulando funções—ela está assumindo um controle que impede que outros aprendam e participem.
A criança que nunca coloca o prato na pia porque a mãe já faz. O parceiro que “não sabe” dobrar a roupa porque sempre houve alguém dobrando por ele. O colega de trabalho que deixa tudo para a mulher resolver porque “ela dá conta”.
O primeiro passo para sair desse lugar é abrir espaço para que os outros assumam suas próprias responsabilidades. Não é sobre “dar ordens” nem “passar tarefas”, mas sobre criar uma cultura onde a carga seja dividida.
Se você, que lê esse texto, se identifica com essa sobrecarga, experimente um pequeno teste:
- Escolha algo que normalmente faria sozinha e não faça.
- Espere para ver se alguém percebe e toma a iniciativa.
- Caso não aconteça, em vez de fazer por conta própria, chame outra pessoa e peça para que ela faça.
Observe: como você se sente nesse momento? Ansiosa? Culpada? Irritada? É comum. Mas essa resistência precisa ser analisada, porque o medo de soltar pode ser, na verdade, um medo de perder valor.
E isso nos leva ao segundo núcleo dessa jornada: a mulher que prioriza. Afinal, depois de aprender a compartilhar, o próximo desafio é entender o que realmente importa e deixar de viver no modo exaustão.
No próximo texto do blog Donadelas, falaremos sobre como sair do ciclo de urgências e recuperar a capacidade de escolher o que merece sua atenção. Até lá, quero saber: o que acontece quando você solta?
Deixe seu comentário e me conte sua experiência!
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