A tecnologia e a adultização das crianças

Criança sorridente usando celular sentada no sofá.

Há alguns dias estava conversando com algumas amigas sobre como as crianças de hoje não querem mais ser tratadas como crianças. As mudanças significativas no comportamento infantil têm levantado discussões importantes sobre o desenvolvimento precoce desses pequenos seres, o seu bem-estar e os impactos na sociedade.

O bate-papo com as amigas surgiu a partir de uma foto postada, em uma rede social, de uma garota de 13 anos (conhecida nossa) com pose, maquiagem e vestimentas iguais às de uma mulher de 20 anos. Uma verdadeira criança “adultizada”.

A chamada “adultização” da infância é um fenômeno cultural em que crianças assumem comportamentos, atitudes e até responsabilidades típicas de adultos. O uso de roupas adultas, linguajar avançado, participação em decisões familiares ou preocupação precoce com a estética e status social faz com que eles pulem etapas importantes na formação do seu caráter

Entretanto, essa adultização é muitas vezes superficial. Apesar de aparentarem maturidade, essas crianças ainda não possuem a bagagem emocional ou cognitiva necessária para lidar com as pressões da vida adulta. O risco está em exigir delas algo que ainda não são capazes de oferecer.

O excesso de informações, o acesso precoce à tecnologia e as responsabilidades assumidas, têm antecipado a maturidade dos pequenos, seja pela forma como se expressam, consomem e se relacionam. Alguns desses estímulos externos vem da mídia, de amigos, do ambiente em que estão inseridas e até dos pais.

E o que se constata é que um dos principais motores dessa mudança é a tecnologia. Crianças que antes tinham o mundo limitado ao ambiente familiar e escolar hoje acessam conteúdos de adultos com poucos cliques. Redes sociais, vídeos no TikTok e YouTube, influenciadores digitais expõem os pequenos a questões complexas como estética corporal, relacionamentos amorosos e problemas sociais, temas que, em décadas anteriores, só fariam parte da vida adulta.

Além disso, o comportamento observado nas redes costuma ser sofisticado e exageradamente maduro, o que estimula a imitação precoce. A infância, que antes era sinônimo de brincar, imaginar e aprender com leveza, hoje divide espaço com selfies, dancinhas virais e debates sobre aparência.

As pressões exercidas pela sociedade e pelos pais colaboram também na adultização das crianças. A pressão por rendimento escolar, atividades extracurriculares e exposição digital muitas vezes substituem o tempo livre, o descanso necessário para assimilação do conhecimento e o simples brincar. Ao invés de explorar o mundo pelo olhar da curiosidade e da descoberta, muitas crianças já são cobradas como miniadultos em formação.

O tema aqui abordado, não tem a intenção de estimular o isolamento das crianças da realidade. Interagir e participar das transformações sociais e tecnológicas é necessário para o seu desenvolvimento social e psicológico. A reflexão é que esse desenvolvimento aconteça no tempo certo.

A infância é uma fase única, insubstituível e essencial na formação do ser humano. Em um mundo acelerado, em que a informação, o consumo e as mídias sociais ditam o comportamento das pessoas, desacelerar e proteger as crianças dos estímulos perigosos, certamente contribuirá para que elas cresçam saudáveis, maduras e seguras.

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