Tudo que reluz é ouro?
Gilberto GilNão se incomode,
O que a gente pode, pode
O que a gente não pode explodirá
Gil, o grande, em meados de 1979, cantava ensinando na estrofe primeira de Realce, segundo o próprio, uma maneira de dizer a luz geral e de denominar o brilho anônimo a que todos tivessem direito. Passados 44 anos, estávamos no grupo de WhatsApp das colunistas Donadelas e, antenadas que somos, discutíamos pautas de nossas próximas colunas após Luciana Souza, nossa mágica do marketing e do varejo e eu, dizermos qual reflexão proporíamos sobre a Threads, nova rede social, quando surgiu da própria CEO Donadelas, Ely Ribeiro, a fala de que em dadas situações, quando podia estar fisicamente presente, estava emocionalmente ausente. Quando estava emocionalmente presente, se sentia fisicamente exausta.
Experiente e sábia, Ely se escolheu. Para não pagar com a própria saúde como um todo, decidiu por se retirar e se ausentar, coisas que não são sinônimas, de determinados compromissos e grupos. Várias de nós, uma a uma, trazendo seus momentos e prioridades e eu aqui, na dificílima tarefa de dizer, puxe a cadeira e sente para o estrondo que vem aí: nem tudo que você gosta lhe faz bem! Deixo claro que isso vale para mim, para nós, para todo o mundo que se propõe humano.
Ah, tudo isso acontecendo na rapidez e instantaneidades de grupos e cada uma de nós retomou seus afazeres, afinal eram 14:23h de um início de semana. Ao pausar para o cafezinho, a Alexa me informou nas notícias do dia que sete horas após ser lançada, a nova rede social Threads (Tópicos) alcançou a espantosa marca de 10 milhões de usuários. E, meu dia ainda sequer tinha terminado! Provavelmente, o seu também.
“A força é bruta, e a fonte da força é neutra e de repente a gente poderá”. Desculpe, Gil, não quero poder. Se em 1979 já existia a expressão FOMO (fear of missing out) com toda a sua riqueza de detalhes não sei, mas a ideia central norteia as clínicas Psis desde o início. Traduzida, é o medo de perder algo. É o legítimo pavor de estar de fora, de chegar atrasada para uma novidade, quase uma necessidade de fazer parte de tudo. Mas, afinal, tudo isso para quê? Para quem? Nada questiono sobre se informar, tendências de mercado, estratégias de atuação e, em casos extremos, sobrevivência no sentido quase cruel do termo. Mas, serei repetitiva para você entender ou descobrir suas motivações para correr tanto. Terapia para já!
O virtual e suas modernidades líquidas ainda não apagaram a máxima freudiana de que quanto mais perfeita uma criatura parecer por fora, mais demônios ela tem dentro. A inteligência artificial é maravilhosa e tem respostas prontas para tudo que está fora, mas não dentro de você, que ao terminar esse texto, mesmo que se esforce, não será a mesma pessoa se chegou até aqui, já influenciada pelos dados novos ou aprofundamento dos já conhecidos.
Não se impaciente
O que a gente sente, sente
Ainda se não se sente, afetará
O afeto é fogo
E o modo do fogo é quente
E de repente a gente queimará!
Agora, sim, Gil, posso me despedir das nossas leitoras, concordo com você. Fiat lux et falta est lux!, que haja a luz evocada desde a gênese de todo o mundo. Sejamos afeto que afeta positivamente.
De forma intencional, nossa conversa não foi na sexta-feira, pois daqui precisava depurar as informações e o boom da novidade. Tome o seu tempo, também, boa semana 🙂
Texto maravilhoso! Obrigada.